domingo, 5 de agosto de 2012

Medicina da alma

Ela receitava remédios que curavam seus pacientes por um período de tempo ínfimo. Sem entender pesquisou seus pacientes que tinham cura imediata, mas logo adoeciam. Descobriu que a maioria tomava os remédios como receitado, a minoria por poucos dias. Porem ambos adoeciam. Passou a receitar visitas diárias a familiares. A cura durava um tempo maior. Contudo seus pacientes voltavam com outros males piores. Reiniciou suas pesquisas. Descobriu que além dos remédios clínicos, os parentes recebiam bem os adoentados, mas logo os atritos do cotidiano acumulavam outras doenças.
Ela voltou aos seus livros da faculdade, entulhados nas estantes de seu apartamento. Mais remédios e menos visitas, exercícios físicos. Porem seus pacientes demoravam meses e retornavam com doenças não existentes anteriormente. Frustrada, recorreu a colegas de profissão, sem solução. Recorreu aos professores de sua formação, sem solução.
Triste, frustrada, envergonhada por não resolver o problema, abrigou na casa de seus pais. Eles a receberam com bolos, chá, sucos, alegria do reencontro e uma saúde de ferro apesar da idade avançada dos anciãos. Acomodou-se em seu antigo quarto, intacto. Com os vinis perfeitos, os livros de cabeceira, as roupas de menina, deixados para trás em sua jornada para a faculdade e sua vida.
As lágrimas caíram sem controle. Lutou contra elas, em vão. Olhou pela janela. O jardim onde conviveu com irmãos, amigos, primos. A balança de seu primeiro beijo continuava no lugar. Desceu para ver de perto o passado. A árvore com a primeira declaração de amor, frondosa permanecia. Logo, seu olfato redescobriu a torta de morango, sua predileta.
Sentou-se à mesa. Sorriu para seus pais. Chorou também. Compartilhou sua tragédia e vergonha. Os anciãos a olharam. Pegaram em suas mãos geladas. Carregou-a até o outro lado da casa. Eles mostraram como sempre curaram suas doenças. Era a plantação de ervas e folhas medicinais. Lembrou-se das mãos sujas de terra. Do motivo de sua escolha pela medicina.
Eles continuaram a trajetória. Mostraram a sala da casa, com brinquedos e lareira. Local onde passaram vários infernos, livros e brinquedos. Onde relembrou das histórias, dos bolinhos de chuva e dos jogos, que eles ensinaram-na que perder e ganhar faz parte da vida, a ouvir o próximo, a respeitar as diferenças.
Levaram-na à cozinha, aos quartos, ao jardim, ao porão e finalizaram no sótão. Lá ela reencontrou sua alma, suas bonecas, cadernos, diários como também os livros dos seus pais e avôs. Livros que ensinavam a medicina da alma.
Medicina da alma só é possível com amor, solidariedade, respeito, coragem de ouvir o próximo sem julgar.
Semanas depois voltou ao seu trabalho. A receita sofreu modificações significantes.
Ela passou a exercer a Medicina da alma

TL

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