Ela receitava remédios que curavam seus pacientes por um
período de tempo ínfimo. Sem entender pesquisou seus pacientes que tinham cura
imediata, mas logo adoeciam. Descobriu que a maioria tomava os remédios como
receitado, a minoria por poucos dias. Porem ambos adoeciam. Passou a receitar
visitas diárias a familiares. A cura durava um tempo maior. Contudo seus
pacientes voltavam com outros males piores. Reiniciou suas pesquisas. Descobriu
que além dos remédios clínicos, os parentes recebiam bem os adoentados, mas
logo os atritos do cotidiano acumulavam outras doenças.
Ela voltou aos seus livros da faculdade, entulhados nas
estantes de seu apartamento. Mais remédios e menos visitas, exercícios físicos.
Porem seus pacientes demoravam meses e retornavam com doenças não existentes
anteriormente. Frustrada, recorreu a colegas de profissão, sem solução.
Recorreu aos professores de sua formação, sem solução.
Triste, frustrada, envergonhada por não resolver o problema,
abrigou na casa de seus pais. Eles a receberam com bolos, chá, sucos, alegria
do reencontro e uma saúde de ferro apesar da idade avançada dos anciãos.
Acomodou-se em seu antigo quarto, intacto. Com os vinis perfeitos, os livros de
cabeceira, as roupas de menina, deixados para trás em sua jornada para a
faculdade e sua vida.
As lágrimas caíram sem controle. Lutou contra elas, em vão.
Olhou pela janela. O jardim onde conviveu com irmãos, amigos, primos. A balança
de seu primeiro beijo continuava no lugar. Desceu para ver de perto o passado.
A árvore com a primeira declaração de amor, frondosa permanecia. Logo, seu
olfato redescobriu a torta de morango, sua predileta.
Sentou-se à mesa. Sorriu para seus pais. Chorou também.
Compartilhou sua tragédia e vergonha. Os anciãos a olharam. Pegaram em suas
mãos geladas. Carregou-a até o outro lado da casa. Eles mostraram como sempre
curaram suas doenças. Era a plantação de ervas e folhas medicinais. Lembrou-se
das mãos sujas de terra. Do motivo de sua escolha pela medicina.
Eles continuaram a trajetória. Mostraram a sala da casa, com
brinquedos e lareira. Local onde passaram vários infernos, livros e brinquedos.
Onde relembrou das histórias, dos bolinhos de chuva e dos jogos, que eles
ensinaram-na que perder e ganhar faz parte da vida, a ouvir o próximo, a
respeitar as diferenças.
Levaram-na à cozinha, aos quartos, ao jardim, ao porão e
finalizaram no sótão. Lá ela reencontrou sua alma, suas bonecas, cadernos,
diários como também os livros dos seus pais e avôs. Livros que ensinavam a
medicina da alma.
Medicina da alma só é possível com amor, solidariedade,
respeito, coragem de ouvir o próximo sem julgar.
Semanas depois voltou ao seu trabalho. A receita sofreu
modificações significantes.
Ela
passou a exercer a Medicina da almaTL
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